segunda-feira, 19 de abril de 2010

Escrevo Azedo

Escrevo. Não pra você. Não pra mim. Faço isso para as baratas imundas e ratos escondidos nos esgotos sob nossos pés. Escrevo sobre qualquer coisa, a vida, a morte, a ferida, a sorte. Não espero que gostes, não! Não me sentirei contente com isso. Apenas cuspo as palavras engasgadas e faço isso sem saber se é bom ou ruim. Tudo que fica para trás e para cima está exatamente onde deveria estar. Não revejo nada, pouco importa a gramática ou a ortografia. Não escrevo pros engravatados ou letrados da Academia Brasileira. Escrevo pros filhos bastardos de uma terra falida, cuspida e chutada, que espera ansiosamente pelo seu próprio fim. Pra bactéria que come a carne já podre do animal morto. Eu sou esse animal.
Sentado em um quarto três por quatro, riscando um papel rasgado. A gordura dos cabelos se mistura com a dos dedos que agarram a caneta com força. Olho para o relógio, quebrado. Acendo a luz, queimada. Me apoio na janela que proporciona um pouco de luz, fraca, porém, luz. Risco os trechos legais, deixo os roubados, de um autor qualquer, da sarjeta, ou não. Todos fazem isso, só não tem coragem de admitir. Eu faço isso. Procuro alguma coisa pra beber, nada. O corredor que leva até o banheiro parece o corredor da morte, melhor se fosse. Não, só me leva até o quartinho com uma privada no canto e uma pia no meio. Abro a torneira e bebo um pouco de água. Está gostosa até. Volto ao quarto escuro. Me apoio na janela e nas idéias pra terminar um texto. Nada. Só cheguei até aqui.
Não espero editoras, não me importo com o mercado. Não espero que entenda. Não espero ser amado. Ouviu? Revolução por copos virados! ! !

Um comentário: